segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

epiméleia heautoû

Pq as clínicas de estéticas vivem cheias e estamos cada vez mais a procura de um corpo perfeito? Mas será q existe um corpo perfeito? Que desejo é esse de ver sempre defeitos em nós e a procura incessante pela perfeição? Perfeição existe??? Ou será que é produzido algo em nós que diz respeito a um ideal de beleza? E pq nos deixamos levar por esses conceitos, procurando cada vez mais nos modificarmos para atingir esse mito da perfeição? Pq não nos aceitarmos como somos?

Ok, falarei da minha própria experiência... acabo de virar mais uma mulher recalchutada! Sim, fiz minha operação de redução dos seios, não só pq eles prejudicavam minha coluna, mas tbm, pq comprometia minha postura e não estava satisfeita. Eles eram tão fartos a ponto de não poder utilizar algumas roupas, as quais me faziam sentir ridícula perante ao espelho e aos outros, caso me encontrassem.

Tá certo, somos indivíduos integrados em uma sociedade, e é claro que conta o que pensam de nós, e como nos apresentamos para o outro (seja ele quem for). Gostamos de nos sentir bonitas, valorizadas e elogiadas. Tudo isso nos conduzem ao nosso próprio bem-estar! E nos sentir bem com nossa própria aparência física é essencial para uma vida saudável e satisfatória. Mas será que é preciso tantas operações corporais assim? Será que não conseguimos nos satisfazer com que nós temos?

Há sempre mais de um olhar sobre qquer assunto... Enfim, neste caso não é diferente. Fico achando que algumas pessoas, principalmente mulheres, acabam por ficarem obssecadas por um corpo que não existe e a partir daí fazem "misérias" consigo mesma, colocando sua própria vida em risco (como vemos o caso da jornalista que morreu na semana passada por ter se submetido a uma lipo) Mas, por outro lado, essas cirurgias plásticas e reparadoras podem potencializar a vida de muitas pessoas, como foi o meu caso.

Passar por todo esse procedimento cirúrgico, me trouxe sofrimento, não só físico como emocional tbm... mas hoje eu me olho e me vejo mais bonita, satisfeita com o resultado, e feliz por me sentir assim, me valorizando mais. Coloco-me em outro lugar, me posiciono diante de mim mesma de maneira diferente, e essa diferença repercute na minha relação com o mundo, com tudo aquilo que é externo a mim. Desde os objetos, como roupas e acessórios, até a minha relação com o outro.

Como diria Foucault, o princípio do cuidado de si (epiméleia heautoû) é ocupar-se consigo mesmo, ter cuidados consigo, retirar-se em si mesmo, recolher-se em si, sentir prazer em si mesmo, buscar deleite somente em si, permanecer em companhia de si mesmo, ser amigo de si mesmo, estar em si como numa fortaleza, prestar culto a si mesmo, respeitar-se...

Acho que muitas vezes esquecemos de cuidar de nós mesmo. Colocamos outras coisas como prioridades na nossa vida e deixamos de lado esse cuidado que é fundamental.

Já ouvi muito dizer q a pessoa que se preocupa muito com a aparência é fútil, e eu digo que depende, depende se ela APENAS se preocupa com sua forma física ou se ela se preocupa consigo como um todo e não se deixa levar pelo vazio de uma beleza superficial. Pois como diria Foucault: "é preciso que te ocupes contigo mesmo, que não te esqueças de ti mesmo, que tenhas cuidados contigo mesmo." E esse cuidado está para além de uma beleza física, diz sobre mais coisas...

E é sobre esse cuidado que eu me atentei nesse período de convalescência... Percebi que a estética, na nossa vida, é essencial. É muito importante para mim essa ligação com o belo (que é bem diferente do perfeito.) O belo, pode ser assimétrico, não tem regras, ele é prazeroso e pode ser recriado, não é rígido, pelo contrário. Essa estética corporal é nosso 'cartão de visita' e o que chamamos de "primeira impressão"... alguns se recusaram a se relacionar por conta desse primeiro contato, mas esses são ignorantes, pois não somos constituídos apenas pelo exterior.


Portanto, para mim o belo é tudo aquilo que visualmente nos dá uma sensação agradável, independente se ele se enquadra nos padrões de simetrias e perfeccionismo. Do mesmo modo, o feio vem a ser aquilo que de alguma maneira, por uma razão ou outra, nos desagrada visualmente e assim nos desperta sensações negativas. O belo e o feio é algo muito subjetivo. O que é belo para meus olhos, pode não ser para os seus.


A cirurgia plástica é uma oportunidade de restauração de uma natureza corporal, que uns acreditam não ter nascido com ela, e outros que tenham a perdido por conta de um acidente ou até mesmo do tempo. Pitangui em uma entrevista diz q a cirurgia plática possibilita a reinserção na sociedade. Mas como assim??? As pessoas que não estão de acordo com o padrão que a arte publicitária através de suas mensagens subliminares nos impõe, elas não estão inseridas na sociedade??? Com essa fala o famoso médico só reforça a tirania da beleza, de uma beleza inalcançável.


Posso olhar essa frase sob um outro ângulo, onde vejo que a própria pessoa para se aceitar na sociedade deve primeiramente se aceitar do jeito que é. Com tantos bombardeios da mídia e da publicidade de sinais dos quais o indivíduo não tem consciência, mas que são reais e dirigem seu comportamento no sentido desejado pelo publicitário, como cair fora dessa manipulação e nos tornarmos indivíduos livres e autônomos, desprendidos das amarras da massificação que nos é oferecida?


Por mais que sejamos críticos sobre o assunto, acabamos indo para o mesmo lado. Pq já foi construído e produzido em nós um desejo de sermos belos. Mas belos para o q a mídia dita ser belo. Será que não há outras formas?


Autores como Platão, Kant, Hegel, entre outros, estudam sobre a estética que nada mais é a área da filosofia que estuda racionalmente o belo... mas aí o assunto é longo e merece outro post mais aprofundado!


O que eu queria mesmo dizer neste post é que a cirugia realmente me fez deslocar de um lugar para outro. Me devolveu a minha força vital, me potencializou e trouxe de volta meu bem-estar! Não foi só a transformação estética do meu corpo, mas toda uma valorização sobre mim e com isso, uma melhoria na minha relação com o outro.


Mas o que eu queria chamar atenção e fazer uma crítica é justamente sobre esse ideal tirânico de beleza, e dizer que nada vai mudar se apenas transformarmos nosso exterior, temos q ir para além disso... Não adianta termos apenas um corpo bonito, isso me remete a futilidade, a vazio, a superficialidade e a efemeridade. O corpo faz parte de um dos cuidados que temos que ter conosco mesmo. Mas saber pôr em análise aquilo que nos é posto como o único padrão é um ato de sabedoria!


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