quarta-feira, 21 de julho de 2010

(...) Me dissolvo no coletivo, perco minha imagem.(...) Perplexa, sinto a multidão
nos metrôs, na cadência dos passos somados, no cruzamento de corpos que quase se
tocam, mas que se afastam, cada um tomando o rumo secreto de sua existência
privada.(...) Minha boca tem gosto de terra.(...) Saio para a vida, redescobrindo os sons
com uma agudeza impressionante. A vida estava se abrindo como afirmação de vida, mas
de vida como morte. Vazio total. (...) Encostada num tronco curvo de árvore, eu me sinto
como se fosse o próprio tronco. Passando a mão em volta de uma estátua, viro a prega de
seu manto.(...)Sinto um calor que vem de dentro do corpo como se tivesse engolido um
tijolo quente. Sinto-me grávida.(...) Perco o sentido do tempo e percebo a Terra, que
continua no mesmo processo, se fazendo e desfazendo continuamente.(...) Estou invadida
pelo inconsciente. Engatinhando, desço o morro, pego na água, na areia, na terra e
aspiro o ar. (...) É como se engolisse a paisagem . É algo sensacional. (...) Eu era a
paisagem, o continente, o mundo.
(Lygia Clark)

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